Sérgio Godinho: “A curiosidade nunca me abandonou”.
Há algo de profundamente livre na obra de Sérgio Godinho, uma liberdade que se vive mas também que se executa, que desbrava caminhos mas que traz uma imensa responsabilidade.
Em 1971, em Paris, Sérgio Godinho concluía o seu primeiro álbum, que viria a ser editado no ano seguinte, para que a sua estreia e a de José Mário Branco, em Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades, não se confundissem. Antes d’Os Sobreviventes, apresenta o EP Romance de um Dia na Estrada e arrancava, assim, uma história única – na música portuguesa mas, também, no panorama mundial. A sua obra atravessa cinco décadas sem nunca perder a frescura (e o vigor) dos primeiros passos. Resiste às agruras do tempo com um elixir da eterna juventude: dois exemplos, “Maré Alta” é revelado, precisamente, no seu primeiro LP, “A Noite Passada” surge em Pré-Histórias, publicado em 1972, quando Godinho já vivia no Canadá. Em Portugal, em pleno marcelismo, os seus discos ora eram aceites ora censurados e o 25 de Abril encontra-o em Vancouver. Regressa, em definitivo, menos de seis meses depois, para participar numa peça de teatro, sintoma da multidisciplinariedade da sua criação. Actor, compositor, argumentista, escritor; apaixonado pelo teatro, pelo cinema, pela literatura, Sérgio Godinho não é porta-voz de uma nação mas deu-lhe palavras de ordem. Escreveu para crianças mas também cantou (par)as mulheres de forma ímpar. Viveu e transformou essa vida em música que serviu para outras vidas. Tantas vidas. A sua curiosidade traduz-se numa imensa liberdade, transposta para as suas canções mas ostentada por toda uma nação – à qual ele ousa chamar de valente. Se se fizer por isso.