Lena d’Água: “Estou desalmadamente feliz”.
Inquieta, irreverente, de gargalhada fácil e coração na boca: assim é Lena d’Água, a mulher que mostrou que a virilidade do rock pode ser profundamente feminina.
É impossível conversar com Lena d’Água sem um sorriso – porque ela também tem o seu sorriso sempre pronto. Conversar com Lena d’Água é, igualmente, abrir um verdadeiro compêndio de vida, experiências, emoções e música. A menina que nasceu rodeada de futebol sempre teve queda para a música e, mesmo quando não compreendia o que cantavam, já se deixava encantar, em criança, pela magia de uma panóplia imensa de vozes, em uníssono, no Coro dos Pequenos Cantores de Viena. Sonhou ter um cavalo e também uma acelera mas foi com uma guitarra oferecida pelo pai que se fez à estrada. O amor levou-a a embarcar na primeira banda, os Beatnicks, e foi por amor que continuou. Sempre.
Com a Salada de Frutas, tornou-se a primeira vocalista de uma banda rock portuguesa mas também a primeira sex-symbol nacional. A crítica estranhava toda a sua sensualidade, que ofuscava a invenção de Luís Pedro Fonseca, mas o público rendia-se a canções como “Robot” ou “Dou-te Um Doce”. Quando se vê despedida da maior banda do momento, Fonseca segue-a e, juntos, criam a Banda Atlântida – cujas canções, mais de três décadas depois, continuam a soar frescas e actuais.
Foi a primeira artista a rever a obra de António Variações, com Tu Aí, de 1989, e… durante três décadas desaparece do olhar do grande público. Até que, em 2017, “Nunca Me Fui Embora”, composta por Pedro da Silva Martins para o Festival da Canção, surge num misto de anúncio e constatação de facto. Dois anos depois, surge Desalmadamente, o seu primeiro álbum de originais em 30 anos mas o expoente máximo de quem é – foi e será – Lena d’Água.
É impossível ouvir Desalmadamente sem um sorriso porque Desalmadamente é desalmadamente Lena d’Água. É festa sem peneiras, é gargalhada fácil, é frenético e honesto. Ela diz que está desalmadamente feliz. Não é a única.