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MEO Kalorama: sim, pode mesmo acontecer

MEO Kalorama:  sim, pode mesmo acontecer
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Ao longo de três dias, passaram 105 mil pessoas pelo Parque da Bela Vista, em Lisboa.

Na sua segunda edição, o MEO Kalorama ficou marcado por duas bandas em momentos muito distintos do seu percurso – os Arcade Fire a procurarem as pazes com o público e os Blur em total paz com a sua História. Mas já lá vamos.

FOTO: MEO Kalorama/Sebas Ferreira

A fasquia estava alta, talvez demasiado alta. Quando se inaugura um novo festival com um cartaz como o que MEO Kalorama escancarou em 2022, cumprir as expectativas seria, sempre, uma tarefa ingrata. À partida, a edição 2023 poderia não ser tão atraente quanto a sua antecessora mas o público continuou a marcar presença – e a render-se. Que o diga o mar de gente que se juntou, no derradeiro serão, no Palco MEO para (voltar) a receber os Arcade Fire, que ainda há poucos meses tinham dado, na capital, dois concertos em nome próprio. Num alinhamento mais semelhante a um verdadeiro best of do que a um corriqueiro concerto dos Arcade Fire, a entrega da banda foi total e surpreendente. Nunca Win Butler esteve tão próximo do seu público (a certa altura, de forma literal, quando desce até à audiência e, por instantes, não fica claro onde acabam os espectadores e começa o líder do colectivo), tão comunicativo, tão apaixonado. Butler estava, genuinamente, feliz por estar ali, o que é compreensível atendendo às polémicas que, no ano passado, rodearam a esta metade criativa dos Arcade Fire.

FOTO: MEO Kalorama/Sebas Ferreira

No extremo oposto, no primeiro dia de MEO Kalorama, Lisboa recebeu os Blur, que, em Junho tinham passado pelo Primavera Sound Porto. Então, “The Ballad of Darren”, o mais recente registo da banda, ainda não tinha sido publicado – mas não foi essa edição que alterou sobremaneira o alinhamento. Do novo disco, apenas foram expostos os dois primeiros singles – “St Charles Square” e “The Narcissist” –, além da maior pérola do registo: a incrível “Barbaric”. O resto do concerto? Foi uma profunda celebração: a de uma banda que sabe o que vale, que em raras vezes esteve em tamanha forma, em tranquilidade interna e criativa. A passagem por Lisboa marcava o último ponto da digressão actual mas a energia não reduziu um milímetro e o público recebeu-os de braços abertos. Os mesmos braços que se abriram para entoar (e acreditar!) que “sim, pode mesmo acontecer”, como os Blur anunciam no inevitável “The Universal” que, como habitualmente, fechou a noite.

 Ou melhor, não – porque essa primeira noite, no Palco MEO, seria fechada pela voracidade explosiva dos Prodigy, regressados aos palcos depois da morte de Keith Flint (homenageado ao longo de vários momentos mas em particular e de forma bela na viagem até “Firestarter”). Antes, porém, ainda por ali tinham passado uns Yeah Yeah Yeahs a quem, aparentemente, a ausência de visitar a Portugal só fez com que viessem maiores – e (ainda) melhores.

FOTO: MEO Kalorama/Hugo Nunes

A reverência a Siouxsie foi também uma das grandes polaroids do MEO Kalorama 2023, ainda que a sua obra não tenha como cenário perfeito um concerto às 18h00 – algo semelhante, logo a seguir, no Palco San Miguel à actuação de Dino D’Santiago (ainda assim, o único nome português a ser chamado às tábuas em horário mais “nobre”). Dino, no entanto, é um conquistador seja de que forma for, de dia ou de noite, com palavras de amor ou mensagens de activismo, no mergulho pelo seu “Badiu” ou na versão d’“Os Putos”, de Carlos do Carmo.

Florence + The Machine, Belle & Sebastian, The Hives ou Young Fathers foram outros dos nomes que cravaram a sua marca na história do MEO Kalorama que, em 2024, regressa a Lisboa entre 29 e 31 de Agosto. Até lá, vão ficar a ecoar as palavras de Damon Albarn: sim, pode mesmo acontecer. Na verdade, já aconteceu – e ainda bem.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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