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Mísia: “Gosto de cantar o que está entre a vida e a morte”.

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Nas palavras de Mísia, o fado é o grande mistério, um sopro de vida e o que está entre a vida e a morte. O fado tem sido a vida de Mísia e poucos o têm cantado como ela.

Quando, na alvorada dos anos 1990, Mísia regressou a Portugal, determinada a cravar no universo do fado a sua impressão digital, poucos sabiam como lidar com a sua obra. Não era habitual procurar uma voz própria num género, então, repleto de dogmas e tradições invioláveis. Mas Mísia – a menina que nasceu Susana e que foi apresentada ao pai com um pão e uma moeda de ouro debaixo do braço – não era mulher para se deixar vencer pelas adversidades.

Foi assim que, sem medos, cantou fado pela primeira vez: com 16 anos, na Taverna São Jorge, indicou aos guitarristas a vontade de interpretar “Sombra”, de Alain Oulman e David Mourão-Ferreira. Eles não conheciam. Também sem medos, deixa para trás uma promissora carreira televisiva, em Espanha, e chega a Portugal para estar perto dos escritores que queria cantar – os mesmos aos quais, a partir de 1990, bateu à porta e se apresentou como “mais do que uma franja e uma mini-saia”. Foi assim que conseguiu que Amélia Muge começasse a compor para uma voz que não a sua, que Agustina Bessa-Luís assinasse o seu único poema conhecido, que os seus fados tivessem a chancela do Nobel da Literatura José Saramago. Com Vasco Graça-Moura abordou a obra de Carlos Paredes e, em Lisboarium & Tourists, atirou-se às canções de Nine Inch Nails ou Joy Division. O que é que todos têm em comum? Todos olharam para os dois ângulos da condição humana, a vida e a morte, os elementos que mais têm apaixonado Mísia. Os dois anos que deram origem ao seu 13º álbum, Pura Vida (Banda Sonora), também ficaram aí, entre a vida e a morte, entre o céu e o inferno. Por isso, esse é o disco de fado onde o fado é mais do que um género, onde a guitarra eléctrica mira a guitarra portuguesa numa verdadeira dança de amantes.

Em 1990, quando chegou a Portugal, Mísia queria criar um repertório seu numa música eterna. Ao fazê-lo, ao construí-lo, deixou uma marca única. Não lhe chamem novo fado porque o fado nunca foi velho. O fado é uma língua viva e poucos o têm vivido como Mísia.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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