Isaura: “Quero experimentar muitas coisas”.
Após a estreia com Serendipity, em 2015, foi preciso esperar três anos até que Isaura se apresentasse, finalmente, num longa-duração – mas Human é muito mais do que o seu primeiro álbum. É uma verdadeira lição do que tem sido a sua vida.
Quando, em 2017, um dos compositores convidados a participar no Festival da Canção, lhe propõe dar voz à sua melodia, a resposta de Isaura, de certa forma, define a sua essência: é certo que as agendas não o permitiam mas a responsável por Serendipity, o seu primeiro EP, de 2015, não se imaginava “apenas” uma intérprete. Aliás, a menina que saiu de São Paio de Gouveia para estudar Biologia Celular e Molecular nunca encarou a música como uma forma de exposição. As suas canções são retratos da sua vida, pequenas narrações de observações, experiências e sensações. Talvez por isso mesmo não seja surpreendente que Human, o seu primeiro álbum, seja um verdadeiro diário do que é o mundo no seu olhar.
Com 11 anos, começou a tocar guitarra – não porque imaginasse tornar-se uma grande guitarrista mas porque queria encontrar o veículo para concretizar a sua vontade de escrever. Aliás, quando começa a fazer os circuitos de bares, só cantava se o seu parceiro em palco também cantasse. E, quando se apresentou ao país, literalmente, a cantar – na sua participação na quarta temporada de Operação Triunfo –, Isaura aprendeu muito sobre a sua voz: porventura, a derradeira lição tenha sido, precisamente, que a sua voz era o espelho da sua alma e, como tal, as palavras que cantaria teriam que ser as suas. Deu um passo atrás, não colocou a música em pausa mas tirou-a do horizonte, até que, em 2014, apresentou “Useless”, o seu primeiro single e o derradeiro passo para a estreia em EP, com Serendipity. Estavam expostas as primeiras coordenadas da personalidade de Isaura: uma electrónica com sabor a pop e aos anos 80, tão introspectiva quanto dançável.
Serendipity pode ser traduzido como uma sucessão de acasos que, na verdade, têm uma razão de ser – e a jornada de Isaura até à publicação de Human parece confirmar todos os auspícios. Pensava expor-se mais uptempo e arriscada até que uma perda pessoal lhe altera o foco e a faz embalar-se no âmago da dor. Ao usar a música como cenário de expiação, concretiza um disco que é um mergulho não só nas várias nuances da música actual mas também naquilo que, em última análise, torna todas as pessoas… humanas. Pelo meio, ainda conseguiu conquistar o país com “O Jardim”, que revela que ainda há uma outra dimensão de Isaura que não se tinha revelado até agora – a do domínio do português. Ter chamado “Useless” ao seu primeiro sucesso, anos volvidos, quase parece uma piada – ou a confirmação de que na música, como na vida, nunca nada é exactamente aquilo que parece.