Dino D’Santiago: “Será que vão perceber o que quero trazer para a música de Cabo Verde?”
Não foi à toa que Dino D’Santiago chamou ao seu segundo álbum Mundu Nôbu: ao regressar a casa e às suas raízes, mostrou que a tradição pode ter uma tremenda frescura. Ou melhor, que pode ser um verdadeiro mundo novo.
Por incrível que possa parecer, o homem que assina Santiago ficou traumatizado na primeira vez que visitou a ilha com esse nome. Tinha 5 anos e, da viagem de Quarteira para a ilha que alberga a capital do arquipélago de Cabo Verde, guardou na memória as condições precárias que faziam com que as casas não tivessem luz nem água. Além das grandes distâncias que a família tinha que percorrer para ir à igreja – a igreja onde começou a cantar, alinhando nos primeiros coros nos quais participou.
Essa criança pensou que nunca voltaria a Cabo Verde mas também pensou que cresceria e se tornaria cartoonista. Fazia sentido, já que chegou a pagar muitas refeições com os desenhos que fazia de personagens do Dragon Ball, que vendia aos seus colegas. Porém, a música havia de se colocar no seu caminho. Na adolescência, os amigos interessam-se pelo hip hop mas precisavam de um cantor que harmonizasse as canções. Dino não tinha jeito para decorar as obras dos outros e começa a compor – e assim se alinhavam os astros para as suas primeiras bandas. É com uma delas que chama a atenção de Bomberjack mas é Sam The Kid quem edita o seu primeiro álbum, em 2008. Antes disso, em 2003, já acompanhara uma amiga à capital, para que ela concorresse à segunda edição de Operação Triunfo: Virgul junta-se ao grupo e acaba por convencer, não só Dino a participar, mas também a organização do programa da RTP a aceitar ouvi-lo. Dino passa a finalista, a amiga não.
Depois de um concerto dos Expensive Soul no Algarve, Dino junta-se à banda para uma jam session e o resto, como se costuma dizer, é história: New Max liga a Virgul para convidar Dino a fazer parte da Jaguar Band, onde acaba por permanecer durante uma década. Pelo meio, surgem projectos como Nu Soul Family ou Soulmotion. Dino já cantava mas ainda não tinha encontrado a sua voz. Essa surge, de forma inesperada, quando regressa a Cabo Verde – e a Santiago – com o pai, em 2010. O chamamento da música mostra-lhe o caminho a seguir e, em 2013, Dino D’Santiago apresenta o primeiro álbum, Eva. Cinco anos depois, no entanto, Mundu Nôbu leva tudo muito mais além. É uma espécie de auto-biografia tornada disco, onde a tradição de ritmos como o funaná lento e o batuku se deixam apaixonar pela electrónica do século XXI. Pode parecer uma verdadeira revolução mas soa como uma espécie de mantra – para o seu autor e para quem se junta a esta viagem.