Rodrigo Leão: “A minha música é simples porque é muito intuitiva”.
Em 1993, poucos foram aqueles que souberam reagir à estranheza de Ave Mundi Luminar, o primeiro álbum a solo de Rodrigo Leão. Foi aí que este filme começou, marcado pela intuição mas também por imagens raras que acabaram por contagiar o mundo.
Não é normal que um músico decida deixar uma banda no auge do seu sucesso. Também não é normal que um compositor ligado à pop decida sentar-se nos teclados, deliciar-se com as múltiplas possibilidades oferecidas por um computador e assinar um álbum com contornos clássicos, minimalistas, predominantemente instrumental mas com as (raras) palavras a serem entoadas em latim. No entanto, Rodrigo Leão não é um músico normal.
Se há algo que tem motivado o seu caminho é a simplicidade – ele diz que a sua música é simples porque não pretende ser um grande intérprete e porque é auto-didata. Porém, a grande simplicidade da sua música (apreendida pelos ouvintes com a complexidade da existência humana, tão melancolicamente saudável quanto intuitivamente introspectiva) passa pelo facto de Leão saber que o segredo de uma grande canção não está na elaboração de grandes artifícios. O segredo para uma grande canção está na honestidade tatuada pelo seu autor – e a música de Rodrigo Leão, assim como o próprio, é profundamente honesta.
A primeira guitarra foi oferecida por uma tia, mesmo sem que, até aí, Rodrigo alguma vez tivesse dado sinais de interesse para a música. Nada, nunca mais, voltaria a ser igual. Ao lado dos “vizinhos” Pedro e Nuno, descobre o lado romântico da criação mas também aprende sobre o mundo através dos grandes ecrãs de cinema. É tudo isto que, a partir de 1993, Rodrigo Leão leva para o seu trabalho a solo: por “isto”, entenda-se, a sua existência, da paixão pela Sétima Arte, em Cinema, à homenagem a uma das figuras mais importantes da sua jornada, em A Mãe, a todas as suas memórias, em A Montanha Mágica. Na música de Rodrigo Leão estão as suas viagens e os seus retiros, os seus amigos e a sua família – está, em suma, a sua vida. Ao fazer uma música sobre a sua vida, Rodrigo Leão (o homem das bandas sonoras d’O Mordomo ou A Gaiola Dourada) fez algo, verdadeiramente, impagável: ofereceu a quem o ouve a banda sonora para todas as suas vidas. A intuição é dele, a música é de quem tem o privilégio de a tornar sua.