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Janeiro: “Estou a encontrar o meu som”.

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O homem que ouve bossa nova durante o dia e tecno à noite não podia ter escolhido outro título para o seu álbum de estreia: Fragmentos pode parecer um retrato musical de Janeiro mas é, também, um mapa para toda a sua existência.

 

Não é à toa que Janeiro afirma que está a encontrar o seu som, a sua personalidade musical – afinal de contas, é o próprio quem afirma que tem, em si, uma imensa panóplia de referências musicais. Daquelas que tanto o fazem citar Zeca Afonso como autor fundamental quanto lembrar um concerto de Solange, no Primavera Sound, onde chorou do início ao fim.

A primeira vez que foi confrontado com um instrumento – no caso, o piano – também chorou, a ponto de ter desistido das aulas. Depois, veio o violino, que também recusou liminarmente, tudo pistas de que a música talvez não fosse o seu caminho: conclusão completamente errada. Troca o tal violino e a sua viagem de finalistas por uma Fender Stratocaster e nunca nada voltaria a ficar igual. Começa a fazer as suas primeiras experiências e a recordar toda a aprendizagem levada a cabo pelos gostos musicais dos pais, de Lou Reed a Pink Floyd, passando por Maria Bethânia e Caetano Veloso. Começa por compor em inglês mas mestres como B Fachada ou Samuel Úria mostram-lhe o poder da palavra na sua língua mãe. Os pais voltam a ser fundamentais quando lhe dizem que, ao invés do pensamento seguro no investimento num curso de Gestão ou Direito, devia seguir aquilo que o fazia realmente feliz: deixa Coimbra para trás e inscreve-se em Ciências Musicais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, da Universidade Nova de Lisboa, e no curso do Hot Clube. Em 2015, apresenta-se, pela primeira vez, em disco, com um EP homónimo que só seria sucedido por Fragmentos, o álbum de estreia, em 2018. No interregno, passou pelo Vodafone Mexefest ou pelo Bons Sons, compôs para Ana Bacalhau e colaborou com o amigo Salvador Sobral, o mesmo que o escolhe para participar na edição de 2018 do Festival da Canção. Não venceu mas o grande público não mais esqueceu a doçura intimista de “[sem título]”. Fragmentos, porém, é muito mais do que essa canção – é uma verdadeira exposição de quão desfragmentada é a sua música, a mesma que tanto se inspira no jazz quanto na electrónica, que presta reverência à bossa nova mas que é profundamente pop portuguesa. Ele pode achar que está à procura do seu som mas, no final de contas, o seu som pode ser exactamente isto: uma música sem fronteiras nem pudores. Simplesmente, Janeiro.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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