A 17ª edição do NOS Alive regressa ao Passeio Marítimo de Algés entre 10 e 12 de Julho.
Foi Isaltino Morais, o presidente da Câmara de Oeiras, quem assim o baptizou: a casa do NOS Alive é “o espaço sagrado de Algés” – e, para acabar de vez com os rumores de mudanças do festival, nos próximos anos, o Passeio Marítimo de Algés vai ser melhorado e, até, aumentado. Em parceria com o Porto de Lisboa, a terra vai crescer naquela zona e o NOS Alive vai ficar mais perto do mar. Este ano, foi, no entanto, perto do céu que estiveram as 165 mil pessoas que passaram pelo festival, ao longo de três dias de celebração. E sim, houve muitos momentos dignos de divino.
A passagem dos Arcade Fire por Portugal já não é motivo de notícias mas, ainda assim, o clã de Win Butler congrega sempre algo de espiritual à sua frente – porém, no arranque do 16º NOS Alive foi nos Smashing Pumpkins que as atenções foram apontadas, com um Billy Corgan sem medo de regressar ao passado e mergulhar em clássicos intemporais como “Bullet With Butterfly Wings” ou “Zero”. Já não estávamos em Cascais nem os Smashing Pumpkins estavam prestes a assumir o papel de líderes do rock alternativo mas, em Algés, o tempo não teve qualquer importância. O desafio de expressar a intimidade da sua obra no NOS Alive não foi tarefa fácil para Benjamin Clementine mas a bola de espelhos foi dona e senhora do reinado de Jessie Ware.
Porém, a rainha desta edição de NOS Alive foi, claro!, Dua Lipa: em nota feminina, porém, é importante destacar as passagens de Aurora e, acima de tudo, a festa sem cor, credo ou género levada a palco por Gloria Groove (que ainda convidou a “nossa” Sara Correia para tornar Algés um pedacinho de “Chelas”). Mas regressemos a Dua Lipa – com “Radical Optimism” na bagagem, o palco NOS encheu-se de uma pop à qual é impossível recusar um pé de dança, música de encher o ouvido mas também os olhos. E porque a pop é para todos, a mensagem de liberdade de Dua Lipa não se findou às suas canções: além da utilização de coletes sensorais para pessoas surdas, a cantora e compositora de origem albanesa ainda arriscou algumas palavras em língua gestual.
E, à quarta passagem, os Pearl Jam mostraram porque é que podem bem ser “a” banda do NOS Alive: estiveram na edição de arranque, em 2007, e regressaram, este ano, pela quarta vez (um regresso que muitos temeram que não acontecesse depois de alguns cancelamentos nas últimas semanas). Talvez a voz de Eddie Vedder nunca tenha estado tão segura e talvez nunca tenha sido tão bom confirmar que, na quarta década de carreira, a banda continua a tocar com um sorriso nos lábios, como se tudo isto fosse (ainda) novidade. Os anos passam mas, nos Pearl Jam, nada parece mudar: o que é um grande elogio. Encontrar clássicos daquela que é a grande obra-prima do colectivo de Seattle, “Ten”, tão ferozes em 2024 quanto eram intensos em 1991 é como um tremendo regresso a casa. Vedder, humildemente, afirmou que eles são apenas uma banda e que mágico era o seu público. No Passeio Marítimo de Algés houve, de facto, magia: as palavras foram entoadas em uníssono e os sorrisos foram partilhados.
Os Pearl Jam não foram, no entanto, os únicos representantes de um passado que soube manter-se fresco e recomendável: antes, também pelo Palco NOS, a viagem encenada pelas Breeders (em magnífica golden hour) fez tremer as veias rock do público, elevadas com o punk-pop dos Sum 41 que, também eles, parecem teimar em manter viva a verve inconformada da adolência (novo elogio!).
Depois de uma edição que contou com 124 artistas, em 129 atuações, em 2025, o NOS Alive regressa ao Passeio Marítimo de Algés entre 10 e 12 de Julho. Regressará com o mote habitual, “o melhor cartaz sempre” – quanto ao regresso dos Pearl Jam ninguém tem duvidas de que acontecerá: e, como sempre e para sempre, o abraço será dado. Há relações de amor eternas – a do público português com os Pearl Jam começou em 1996 e a paixão ainda está ao rubro.