Paulo Bragança: “Nunca soube do mundo mas de mim”.
Cantou o seu mais antigo poema em “Pecado 2”, inserido no seu segundo álbum, Amai. Porém, o grande pecado de Paulo Bragança foi ter tentado ser ele próprio: diferente.
Para Paulo Bragança, cada ser é único – ele é, certamente. Foi, pelo menos, único o seu percurso: o menino que cresceu rodeado de fado mas nunca que o levou a sério; o jovem cujos testes psicotécnicos – repetidos para que não restassem dúvidas – apontavam como tendo veia para música mas que não ligou; o universitário que, em pleno curso de Direito, sobe ao palco da Aula Magna para um concerto em nome próprio. Estava-se em 1988 e nada mais ficaria igual. O espírito sagrado que sentiu no momento havia de ficar, para sempre, cravado na sua essência. Mas a sua essência era sobremaneira diferente para uma época em que o fado ainda era demasiado dominado por puristas que ostracizaram a ousadia de unir a pérola portuguesa a abordagens pop, ritmos electrónicos e utilização de samples. Ao levar, sem pensar nas consequências, todas as barreiras pré-estabelecidas ao limite, foi a sua própria liberdade criativa que Paulo deixou em risco – porque lhe foi retirada a possibilidade de criar. Depois de editar Lua Semi-Nua, em 2001, chegou a estar três anos sem dar um concerto: bate com a porta e deixa o país. Passa seis anos sem cantar. Em Dublin, estuda Filosofia, descobre-se e, nesse reencontro, Portugal acaba, também, por encontrá-lo. Dezassete anos depois do seu último álbum, editou Cativo, em Março de 2018. Por ser o fadista do blusão de cabedal, em 2017, cantou com os Moonspell e tanto actuou no Caixa Alfama quanto no Entremuralhas. Para alguém que sempre quis, apenas, ser quem é, esse só pode ser um sinal de que, por errado que tudo possa ter parecido, era ele quem estava certo.