David Fonseca: “A inquietação ajudou-me a construir coisas novas”.
Em 1998, a sua vida mudou radicalmente. Vinte anos depois, David Fonseca publicou o seu sétimo álbum a solo – chamou-lhe Radio Gemini e traz um conceito que quase se confunde com a vida do seu autor.
Portugal nunca tinha visto nada assim: de Leiria, um quarteto tomava de assalto a música nacional. Fazia-o de forma verdadeiramente surpreendente – com canções introspectivas e ambientes contemplativos, entoadas em inglês. À frente dos Silence 4, surgia David Fonseca, o rapaz tímido que, menos de seis meses depois da edição de Silence Becomes It, o registo de estreia da sua banda, se via a actuar perante o (então) Pavilhão Atlântico. Completamente esgotado.
Depois do debute se ter tornado um dos discos mais vendidos da História da música portuguesa – com mais de 250 mil exemplares a encontrarem público –, regressaram aos álbuns em 2001. Porém, a digressão de Only Pain Is Real havia de levar a uma pausa no caminho dos Silence 4, que se tornaria um ponto final no ano seguinte. David, no entanto, tinha algumas canções, que mostrou a Mário Barreiros, o produtor que trabalhara com a banda e que o incentiva a regressar ao estúdio. Assim nascia, Sing Me Something New, o longa-duração que, em 2003, marcava uma nova vida para David Fonseca.
De lá para cá, passaram década e meia e outros seis discos, com os 20 anos de carreira do (também) artista visual a serem assinalados com a publicação de Radio Gemini, um registo pensado como se se tratasse de um programa de rádio – onde todas as canções são de David Fonseca. Narra-se uma história mas é tentador encará-la como uma metáfora para a vida do seu autor: aquele que sempre viu a música como um plano alternativo mas nunca parou de inovar; aquele que pôs mão na música, pela primeira vez, no programa de rádio que assinou no Rádio Clube de Leiria mas aprendeu a tocar guitarra com um livro de acordes; aquele que tanto cativa pelo lado efervescente das suas canções quanto apela a uma intimidade desarmante. Em 20 anos, David Fonseca nunca parou que querer fazer diferente. Provavelmente, não é uma vontade – é o chamamento de uma certa inquietação à qual não sabe virar costas.