Tim Bernardes: “Recomeçar é um disco de canções bonitas sobre sensações tristes”.
Descreve a sua música como “sofrência indie” ou “auto-ajuda hipster” – a música de Tim Bernardes prova, apenas, uma coisa: no peito de um hipster, também bate um coração.
Segundo conta a sua mãe, a primeira palavra que Tim disse foi “música” – faz sentido. Filho de músico, a sua mais deliciosa brincadeira infantil era empoleirar-se no gira-discos de casa, fascinado com os vinis a rodar. O mesmo fascínio fê-lo encantar-se pela obra eterna dos Beatles mas também pelo espírito feroz dos Mutantes, que o levam às primeiras canções. Por essa altura, já Tim sabia que “música” não era, apenas, a sua primeira palavra. Era a sua vida.
Em 2012, com O Terno, apresentou 66, o primeiro álbum da banda paulista que, em 2019, publicou o registo #4, <atrás/além>, mas as sementes para aquilo que se viria a tornar Recomeçar já lá estavam. “Não”, o momento mais antigo do seu primeiro registo a solo, tinha surgido em 2010. Músico, compositor, arranjador, produtor, Tim sabia que tinha algumas canções que, na linguagem de banda, perderiam delicadeza. E Recomeçar é um disco feito de subtis delicadezas, daquelas que fazem descobrir perfeitos cenários de total beleza a brotar dos mais escuros suspiros da condição humana.
Não se pense, porém, que Recomeçar é um álbum triste. É, antes, aquele feliz instante em que é possível perceber que há um futuro, que, ao virar do disco, há esperança. É por isso que o seu fim é o seu princípio que, por sua vez, é também o final dessa viagem. Movimento contínuo, filme encenado em formato-canção, Recomeçar é um disco sublime e de sublimação, onde Tim Bernardes abre as portas do seu quarto. Todos são bem-vindos.