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Frank Ocean – Blonde

Frank Ocean – Blonde
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Blonde

Os primeiros momentos de Blonde dão o mote para toda a essência do novo álbum de Frank Ocean: a cadência cardíaca, o ritmo compassado, as palavras de desilusão, de um amor do qual não se pode (ou não se quer) fugir mas que teima em não se concretizar. Ou, pelo menos, não como se quer. Depois há o interlúdio de “Facebook Story”, onde se retrata a forma desapegada de corpo mas delirante de virtual que são as histórias de amor de hoje – descrevendo como uma relação real pode terminar pela preponderância das redes sociais. Por falar em interlúdios, num misto de preconceito com humor, oiça-se “Be Yourself” e registe-se a mensagem: “Be yourself and know that that’s good enough”. Não restam dúvidas: Frank Ocean, em Blonde, está apenas a ser Frank Ocean – e não há ninguém como ele.

Quando apresentou (o premiado) Channel Orange, Ocean foi considerado um mestre: porém, onde esse álbum era eclético e de braços abertos, Blonde é um abraço apertado, daqueles que fazem parar a respiração. Denso na simplicidade, complexo nas palavras directas, torneado nos movimentos melódicos, aguçado nas rimas disparadas em foco certeiro mas doce nas confissões. Onde Channel Orange era expiração confiante, Blonde é um inspiração suspensa, camuflado numa espécie de odisseia para os embates da vida no século XXI. Não se escute, no entanto, Blonde, como se de um bloco de notas se tratasse, misto de confissão com diário de bordo. Estes são conceitos (praticamente) universais: a mágoa, a perda, o amor e a sua desilusão. Os ritmos, por aqui, como na vida, podem ser feitos apenas na emoção, como em “White Ferrari”, sem um beat certeiro a não ser o arremesso das palavras e a força das camadas de vozes. É essa a grande transparência de Blonde – o fazer algo que não parece o que é. Ou buscar a libertação numa profunda nostalgia. Nu. Solto. Esparso. Blonde não é um disco de sol quente mas encontra o seu calor noutros espaços: em madrugadas de contemplação, onde aquilo que parece música de fundo se torna corrente de novas descobertas.

“We’re not in love but I make love to you”, ouve-se em “Nikes”. “I thought that I was dreaming when you said you loved me”, confessa em “Ivy”. “Mind over matter is magic”, afirma em “White Ferrari”. A alienação e a destruição também passam por aqui, seja na forma de drogas, sexo ocasional ou apenas na existência – como nas palavras ao encontrão de “Solo” ou no embalo delicado de “Seigfried”.

Regresse-se a “Nikes”, a canção que abre o sucessor de Channel Orange: Ocean nunca virou as costas à polémica ou à necessidade de colocar o dedo na ferida – por isso, fala-se do rapaz que, há uns anos, foi morto pela polícia quando tinha apenas rebuçados no bolso. Sim, os primeiros momentos de Blonde dão o mote para toda a essência do novo álbum de Frank Ocean. E o novo álbum de Frank Ocean é um álbum grande. Já agora: também é um grande álbum.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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