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Sara Correia: “O fado vestiu a minha voz”.

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Diogo Clemente diz que ela é uma alma antiga: quando o fado canta, quer alguém para o escutar e são cada vez mais aqueles que escutam o fado de Sara Correia.

Fado é vida e, em Sara Correia, não há vida sem fado. Primeiro, porque não se lembra, sequer, da primeira vez que ouviu fado. É certo que o facto de ter um tia fadista pode ter facilitado o contacto mas, a cada vez que almoçava em casa dos avós, mal subia o elevador, já estava a ouvir Amália Rodrigues no rádio familiar. As tardes eram passadas em frente à aparelhagem Kenwood, determinada a aprender as palavras que a tia entoava nos discos e, na lembrança, ficavam ainda as luzes e os aplausos que encheram o Coliseu dos Recreios quando Joana Correia venceu a Grande Noite do Fado, em 1997. Dez anos depois, Sara já tinha batido à porta do Clube Lisboa Amigos do Fado, já tinha encantado Armando Tavares e já tinha começado a visitar essas verdadeiras escolas que são as casas de fado. Com 14 anos, é ela quem enche o Coliseu de aplausos e recebe o prémio de vencedora da Grande Noite do Fado – com um nervoso tal que sobe ao palco com o xaile do avesso. Um ano depois, passara pela Casa de Linhares e pela Mesa de Frades mas, desafiada por Fábia Rebordão, visita o Bacalhau de Molho: o dono deixa-se encantar pela fadista de Marvila e essa torna-se a sua primeira “casa” de fado. Actua ao lado de Celeste Rodrigues, por exemplo, aprende os ensinamentos dos mestres e perde a timidez que a fazia actuar de olhos fechados. Porém, teimava em não regressar aos discos – mesmo depois de Diogo Clemente lhe ter dito que estava na hora. Passam, juntos, três anos a escolher um repertório que havia de culminar num registo homónimo editado em 2018. Escolher o seu nome para dar título ao álbum não é à toa: é este o seu retrato, o desenho do percurso que traçou até agora – aquele que tanto é influenciado por Amália Rodrigues quanto por Beatriz da Conceição mas que também tem os olhos apontados ao presente, nas palavras que o guitarrista assinou. Para cantar fado, é preciso viver e conhecer a vida. Sara Correia gosta de cantar emoções porque é assim que se canta a vida. “Quando o fado canta, quer alguém para escutá-lo” e são cada vez mais aqueles que escutam o fado de Sara.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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