Madrepaz: “Aquilo que consideramos beleza”.
Lenda e realidade. Magia e existência. Power rangers e libelinhas. Panoramix e Bonanza. Por la vida: assim se faz a música tornada beleza nas mãos dos Madrepaz.
À primeira vista, tudo nos Madrepaz, parece feito de ímpetos. Veloz. Imediato. Mas não é bem assim. Aliás, para contar esta história tem que se regressar ao início dos anos 00, quando Pedro e Canina alinham no seu primeiro projecto conjunto, Os Golpes. Após três registos – e fortes aplausos, por exemplo, em momentos como “Vá Lá, Senhora”, partilhado com Rui Pregal da Cunha –, o ponto final d’Os Golpes paria A Armada. Aí, a Pedro e Canina juntava-se Ricardo, que apresentam ao mundo um EP, Clássico, em 2013, mas que, confrontados com um álbum (Espiral) que não se sentiam em condições de mostrar, dão um passo atrás e compreendem que queriam fazer algo diferente. No Verão de 2015, aos três juntava-se João, que tinha sido colega de Canina no Hot Club Portugal – e assim estavam alinhadas as premissas para os Madrepaz. Só que isso é o lado sóbrio de toda esta aventura.
Os Madrepaz são muito mais do que uma banda – são um colectivo que encontra em retiros feitos ao jeito de espírito tribal a liberdade que apenas o isolamento permite alcançar. Essa liberdade é alcançada ao som de música, com álbuns ouvidos à exaustão, dissecados, partilhados, até ao ponto em que esse legado se torna algo novo. Tão novo que, para o definirem, “inventaram” o seu próprio género musical. No xamanic pop dos Madrepaz, a devoção à obra de Zeca Afonso pode dançar ao ritmo do flamenco, o psicadélico pode ocupar o deserto e o fuzz pode sentar-se a beber chá. Nada, aqui, é impossível porque os Madrepaz são regidos pela imaginação. Uma imaginação sem limites e que, no espaço de dois anos, deu origem a dois álbuns, Panoramix, de 2017, e Bonanza, a editar em 2018. Podem partir da fantasia mas criam a sua própria lenda, aquela que se inspira na vida para se tornar “por la vida”.