Em muitos aspectos, o álbum #3 dos Capitão Fausto é uma espécie de crónica de uma morte anunciada
Em muitos aspectos, o álbum #3 dos Capitão Fausto é uma espécie de crónica de uma morte anunciada. É a morte de uma forma de estar na vida, é a morte de um jeito de fazer música, é a morte de uma sonoridade que fez maravilhas em universos como aqueles onde Pesar O Sol habitava. Mas, qual fénix, os Capitão Fausto renascem – não das cinzas mas nas canções. Não se reinventam porque não perdem identidade mas são uns Capitão Fausto completamente novos. Ou, melhor, uns Capitão Fausto (mais) velhos. E, com a idade, chegou-lhes também a contemplação e a contenção.
Não se pense, porém, que Dias Contados é um registo despojado ou simples: ao levarem estas canções ao essencial, os Capitão Fausto tornaram-nas mais complexas, onde a verve do rock desbragado é substituída por uma alma pop que não é do século XXI mas de sempre. Continua a haver um espírito psicadélico mas, agora, parece mais focado na pop dos Beach Boys do que no rock no qual bandas como os Tame Impala encontraram inspiração. A força das guitarras surge, por isso mesmo, repartida com os ambientes mais imponentes das teclas, os abraços dos coros, os brilhos de metais e cordas. São as bases para tornar estas oito canções enormes painéis de imagens, quer se fale dos instrumentos quer na ondulação e no embalo das palavras. Porque, afinal, esta morte anunciada não se refere, apenas, à música.
Os Capitão Fausto têm os dias contados porque os músicos, também eles, cresceram – e esse crescimento, essas dores de crescimento, estão espalhadas por todo o álbum, quer quando se reflecte no trabalho (“Morro Na Praia”), nas contingências quotidianas (“Semana Em Semana”) ou, simplesmente, quando se lançam frases como “A mocidade, para nós, chegou ao fim”. Um fim que se torna, ao mesmo tempo, um princípio. Um bom princípio, onde as peças se encaixam na perfeição. O que será caso para dizer que, em definitivo, os Capitão Fausto chegaram ao Estado Maior da Idade Adulta.