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Filho da Mãe: “Há algo de obsessivo na música”.

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No olhar de Rui Carvalho, parece haver sempre algo em aberto: eis o homem que garantia não se aventurar a solo mas que, enquanto Filho da Mãe, encontrou a sua suprema linguagem.

 

O pai desesperava com a sua relutância em aprender – e não quando se tratava, apenas, da matemática escolar. Economista de profissão, foi com a actividade paralela do pai que se deixou inebriar para beleza da música… e pela guitarra. Aprendeu a tocar os primeiros acordes graças ao livro A Guitarra Mágica, de Eurico A. Cebolo: estavam lançados os dados para as primeiras canções e, claro, para as primeiras bandas. Apresenta-se, com punk, pompa e hardcore, com os If Lucy Fell, ao mesmo tempo que dividia o seu tempo com a arqueologia de formação – até que a pausa no quinteto dá origem à ideia de um projecto a solo, algo que, até aí, sempre garantira que nunca iria fazer. Em Filho da Mãe, encontra toda uma nova realidade, que parte das estruturas a que se tinha habituado no rock até se deixar contagiar pela arte do silêncio; que abdica do recurso à voz porque está inundado por imagens que valem (muito) mais do que mil palavras. Foi com obsessão que, em criança, se dedicou à guitarra mas é com um espírito aberto que aborda cada um dos seus álbuns. Por isso, não é de espantar que decida colocar de lado um disco inteiro, simplesmente, por já não sentir que traduzisse aquilo que queria expressar. Apresentou-se com Palácio, a que sucedeu Cabeça e Mergulho; ao quarto registo, decidiu chamar Água-Má, uma alforreca que vai com a corrente. Nada poderia ser maior contradição, se se pensar no caminho de Filho da Mãe: esta é uma música feita, pensada e construída num universo seu, que não procura encaixar-se em qualquer cânone estabelecido ou preocupado com o sentido de pertença. Há algo de irónico em Rui Carvalho: o menino que teimava em não querer aprender mas que se tornou um verdadeiro mestre. Em Filho da Mãe, a obsessão compensa.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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