
Ao terceiro disco, o Paus estão (realmente) ainda mais Paus
Quando “Água de Rosas” chega ao final, na conclusão do trajecto feito por Mitra e iniciado em “Pela Boca”, a sensação de caos permanece, muito depois de a música terminar. É um caos (des)controlado, que nos empurra mas fascina, que invade o corpo mas impulsiona os sentidos. Parte-se de “Pela Boca” e chega-se a “Água de Rosas” – e, pelo meio, há muito. Há muito mais Paus. E isso é bom.
É fácil fixar os Paus pela sua bateria siamesa, o primeiro cartão de visita. Porém, aterrados no terceiro álbum, não é justo “reduzir” os Paus (apenas) a esse elemento: se é verdade que é esse o coração destas canções, elas vão muito além. Se esse é o tronco, os elementos electrónicos serão as pernas que usam para correrem desenfreados, as guitarras os seus braços, os baixos o seu pulsar. Por entre o rock vestido de tecno, o lado tribal de Mitra aventura-se por muitas outras paisagens, do prog ao dub, tão depressa piscando o olho ao psych quanto se enamorando por movimentos de hipnose circular. As vozes surgem com um destaque ainda maior do que em Clarão – porém, as palavras (ainda que com rasgos de agressividade) não parecem importar tanto quanto a sua utilização, como se de um quinto instrumento se tratasse. Potente, este Mitra também sabe descobrir uma certa tranquilidade, visível em “Fumo” ou “Aqueduto”, mas é nas explosões que ganha maior brilho, como em “Era Matá-lo” ou “Pela Boca”.
Ao terceiro disco, o Paus estão (realmente) ainda mais Paus. E, sim, isso é bom. Muito bom.