Não nos deixemos enganar pela aparente leveza de “Under The Sun” ou “Loose Ends”
Misturem-se influências da Seattle dos 1990s e uma tendência para o shoegaze, lembrem-se os contornos indie do bairro nova-iorquino de Brooklyn e levem-se os corpos até ao pós-rock da Inglaterra dos 1980s – são todas essas imagens que surgem quando se escutam os DIIV e o seu novo Is The Is Are. Zachary Cole Smith é uma espécie de grunger dos tempos modernos, torturado por uma sociedade opressora, de guitarra em riste e sem ponta de optimismo. Álbum #2, e quatro anos depois de Oshin, Is The Is Are não é, exactamente, o novo capítulo que Smith anunciou mas não deixa de ser surpreendente. Comece-se pelo facto de exceder uma hora na sua duração e por ter 17 canções. Se, por um lado, continua a trazer uma personalidade que se reconhece – estas guitarras não enganam ninguém –, leva mais longe as oscilações ondulantes e em jeito de serpentina de Oshin. Respondem por DIIV e estas canções são, literalmente, mergulhos: em águas densas, mascaradas por sons plásticos traduzidos por guitarras corpulentas. Há por aqui mais pop e a voz surge, agora, mais próxima: no entanto, e apesar das palavras surgirem centrais, não são elas o centro. O coração e a alma de Is The Is Are estão reservados à profundidade melódica que impele a movimentos subtis, nascidos de uma musica dolorosamente descrita, emitida das profundezas de uma instabilidade escura, que aposta todas as fichas nas atmosferas que a envolvem. Não nos deixemos enganar pela aparente leveza de “Under The Sun” ou “Loose Ends”: aqui não há espaço para esperança ou humor e nada parece irónico. Em 2013, quando se estrearam em Portugal, ainda a tarde ia a meio, no NOS Alive, éramos poucas dezenas – se/quando os DIIV regressarem, seremos muitos mais.