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Daughter – Not To Disappear

Daughter – Not To Disappear 4.0
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Crítica

Uma espécie de desilusão profana, com palavras e espírito gótico em ambiente dream pop

Uma espécie de desilusão profana, com palavras e espírito gótico em ambiente dream pop – podia ser assim descrito Not To Disappear, o álbum #2 do trio Daughter. Estéril no seu luxo, parece narrar um acidente catastrófico ao virar de qualquer esquina. Até que se compreende que as confissões da voz arrastada de Elena Tonra verbalizam (apenas) o presente: uma existência feita de amor mas também de desilusão, de vida mas também de morte, de pessoas mas também de solidão.

Assente nas guitarras que se muscularam durante a estrada feita com If You Leave, de 2013, (como na vertente shoegaze de “Fossa”), mas ainda apaixonado pela electrónica (oiça-se “No Care” e percam-se as dúvidas), Not To Disappear pega na alma folk e veste-a de indie pop, fumarenta e expansiva, arrastada, com espaços confrangedores, como se movimentos soltos pudessem nascer de grilhões profundos. Apostado em melodias downtempo, desvenda-se, ao invés de figuras imaginadas, uma espécie de diário mundano, com pormenores confessados em jeito de conversa de café – da tristeza de “Alone/With You” à demência de “Doing The Right Thing”. Como se o mundo pudesse ser exibido com delicadeza artesanal, pormenorizadamente esparsa. Sem camuflados. In your face. Agressivo, sim, mas delicadamente agressivo, com etéreos murros no estômago, numa espécie de confronto exorcista com os nossos próprios demónios, apaixonados por paisagens desoladoramente cinzentas em noite de contemplação. Sufocante, é certo, mas ainda assim, determinado em cativar.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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