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De La Soul

De La Soul
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And the Anonymous Nobody…

 

É com pompa e circunstância que arranca o 1º álbum de estúdio dos De La Soul nesta década. De forma sumptuosa, elegante, entra a voz de Jill Scott e o conforto de uma melodia entoada em 2016 mas com a magia e o carisma das big bands dos anos 1940. Pressentem-se os ambientes jazzy que virão a marcar a mais de dezena e meia de canções que compõem and the Anonymous Nobody…. A espera foi longa, é certo, mas valeu a pena. Valeu tanto a pena.

Passaram quase 12 anos desde que os De La Soul – um dos mais importantes e influentes colectivos na propagação e desenvolvimento do hip hop como hoje o conhecemos – editaram The Grind Date. O trio que se estreou com uma das maiores obras primas do género onde passeiam – 3 Feet High And Rising surgiu, em 1989, como uma verdadeira pedrada no charco, mostrando que o hip hop podia ter sabor a rua sem precisar de estar associado a “más companhias” – atirou-se a and the Anonymous Nobody… com vontade de fazer diferente. Como se estivessem a começar. Para financiar o disco, optaram por uma espécie de crowdfunding: onde é que se evidencia a importância que todos lhes reconhecem? Em menos de 10 horas, alcançaram o valor necessário para a produção do disco. E, agora, ele aqui está.

And the Anonymous Nobody… é, antes de mais, um regresso a casa – para os três De La Soul mas também para quem se deixa envolver por momentos como “Pain”, a primeira amostra, com Snoop Dogg, ou “Sexy Bitch”, grooves vigorosamente intensos, escorregadios, insinuantes. Mas também é um genuíno desfile de estrelas – e nenhuma deixa de ser ela própria. O que é que isto quer dizer? Quando se ouve “Snoopies”, compreende-se, de imediato, a presença de David Byrne, o mesmo acontecendo com outras visitas (mais ou menos prováveis), de Damon Albarn a Justin Hawkins (dos Darkness), Little Dragon ou Usher. É assim que uma colaboração deve ser – quando nenhuma das partes perde a sua personalidade e a sua soma é, efectivamente, algo diferente. E, neste caso, bom.

Os De La Soul são verdadeiras lendas da música e aquilo que fazem aqui é confirmar que a chama que os fez dar os primeiros passos há mais duas décadas continua imutável – e, no seu novo álbum, o que fazem é mostrar toda a herança que estão a deixar para as gerações vindouras: uma música que se faz de rimas disparadas mas também de palavras entoadas, de beats poderosos mas também de melodias titubeantes, entre cordas dedilhadas ou sopros inflamados. É hip hop de nascimento mas também é rock, r&b, indie ou garage. É de um trio, sim, mas é quase como se abrisse os braços e se tornasse de todos aqueles que o quiserem, efectivamente, sentir. E apreciar.

And the Anonymous Nobody… é, acima de tudo, um álbum de independência: pensado de forma independente, financiado de forma independente, concretizado, interpretado e disparado de forma independente, livre de amarras de géneros, interpretações ou formatos. Tornar-se uma viagem tão descontraída e apetecível torna tudo isto ainda melhor.

“Your music means everything to you. Are you concerned about the status of your playlist and precious collection? We feel you, and we’re here to help. Have no fear, De La Soul is here”, ouve-se em “You Go Dave”. É uma sátira e cheia de humor? É. Mas é isso que faz com que este reencontro com Dave, Pos e Maseo seja realmente um regresso a casa. Não é um novo começo mas, mesmo que fosse uma despedida, seria em grande. Ou não se ouvisse, mesmo de seguida, “we’re still here now”…

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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