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M de Música @ Vodafone Paredes de Coura: dia 1

M de Música @ Vodafone Paredes de Coura: dia 1
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Acontecem coisas em noites de lua cheia – ou, pelo menos, assim o afirmou Matt Berninger, no regresso dos National ao festival minhoto.

A verdade, no entanto, é que a lua não estava exactamente cheia, ao contrário do (emblemático) recinto instalado na Praia Fluvial do Taboão. Assim foi no dia 1 do 27º Vodafone Paredes de Coura. Berninger, 14 anos depois do quinteto ter tido como cenário para a sua estreia em Portugal, precisamente, Paredes de Coura, havia de referir-se, igualmente, à forma como o nevoeiro compunha o ambiente, como aquele era um local incrível, como o público era fantástico. São raras as histórias de amor que ultrapassam os tempos, os discos e as tendências – sobretudo se pensarmos que, ao longo da última década e meia, raros foram os anos em que os National não visitaram Portugal (esta é, aliás, a primeira passagem do quinteto em 2019, com regresso agendado para Dezembro, em Lisboa). Se, em 2005, traziam Alligator na bagagem, o passado pouco foi contemplado ontem, num alinhamento que mais parecia um voraz best of dos mais aplaudidos momentos dos registos recentes. Claro que houve espaço para os incontornáveis “Fake Empire” ou “About Today” mas foi em I Am Easy To Find que o concerto mais mergulhou, do arranque em uníssono com  “You Had Your Soul With You”, passando por “Hey Rosey”, “Rylan” ou o magnífico “Light Years”. Ao lado de Berninger, durante boa parte do espectáculo, havia de estar Mina Tindle, uma das vozes que tornam o álbum #8 dos National o mais feminino de sempre. Aliás, o primeiro em que a loucura-que-vou-tentar-controlar-mas-não-vou-conseguir de Berninger sai, pela primeira vez, do foco central. O (improvável) vocalista de uma banda rock que também não o parece ser, no entanto, também está “diferente”: mais contido, já não arrisca o mosh mas também não pára de conversar com o seu público. Há, por aqui, uma tremenda inépcia social, mas, provavelmente, é por isso que tantos se identificam com os disparos de “Terrible Love” ou “The Day I Die”, com a melancolia de “I Need a Girl” ou a pujança de “Graceless”. “We said we’d only die of lonely secrets”, há-de gritar-se em “The System Only Dreams In Total Darkness” – mas, aqui, ninguém se sente sozinho. Em “Mr November”, por exemplo, Berninger já não se deixa envolver pelo seu público mas continua a estar-se perfeitamente nas tintas para afinações, compassos ou ritmos. Lá está, no peito dos desafinados também bate um coração.

E os corações de Coura, antes dos National, bateram pela descoberta de Julia Jacklin, deixaram-se balançar pelos Boogarins e dançaram com os Parcels. Entre a colina repleta de pessoas, o nevoeiro e a lua (que não estava ainda) cheia, as memórias ficaram, claramente, cravadas em todos os que esgotaram a primeira noite do 27º Vodafone Paredes de Coura.

Foto: Hugo Lima

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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