O 17º NOS Alive voltou a encher o Passeio Marítimo de Algés, com dois dias assinalados por lotação esgotada. Em 2026, o festival regressa entre 9 e 11 de Julho.
Coube a Olivia Rodrigo – e ao seu regresso a Portugal, apenas um ano depois da sua estreia na MEO Arena – a responsabilidade pela primeira voraz procura de bilhetes para o NOS Alive 2025. Porém, a grande estrela da pop-rock, que mistura de forma actual a cartilha de figuras de referência de outros tempos (as comparações com Alanis Morissette são inevitáveis) poderá não ter sido a grande protagonista da 17ª edição do festival. É certo que trouxe ao Passeio Marítimo de Algés uma audiência em tudo distinta do que é habitual – com muitas famílias completas, com muitos adolescentes –, que fez as delícias de quem procura exorcizar dores de crescimento, corações partidos e a descoberta das agruras da vida adulta. Que fez dançar e cantar, mostrando que a escuridão do sofrimento pode dar lugar à luminosidade da liberdade, da emoção, da confiança. Apresentou uma banda totalmente composta por mulheres, porque tudo em Olivia Rodrigo é empoderamento, e deu um espectáculo exemplar. Benson Boone já tinha trazido saltos mortais e uma pop puramente descontraída e solta à plateia do Palco NOS no primeiro dia de NOS Alive mas foi Olivia Rodrigo a estrela da noite. Porém, não terá sido ela a estrela do festival.

Às vezes, há males que parecem vir por bem e o inesperado cancelamento dos Kings of Leon para o derradeiro serão do NOS Alive é disso exemplo. Vinte e cinco anos depois da sua estreia em Portugal – no ido 2000, no saudoso Festival da Ilha do Ermal –, os Muse continuam a ser uma das bandas coqueluche do público português. Já contam com mais de dezena e meia de concertos em palco nacionais e as promessas nunca saem defraudadas: são máquinas de fazer hinos cuidadosamente preparados para serem entoados por multidões, músicos irrepreensíveis e profundamente conhecedores da necessária intensidade para liderar um concerto memorável. Enchem o olho e o ouvido, trazem a energia das guitarras e da sua epicidade e recebem a total devoção – e, desta vez, até Diogo Jota foi lembrado, através da t-shirt escolhida pelo baixista do trio britânico.

Quando os Nine Inch Nails subiram ao Palco NOS, porém, depois da avalanche do colectivo de Matthew Bellamy, mais de metade do público tinha debandado. Erro deles – que perderam o mais inesquecível concerto de todo o festival. Depois da passagem pelo NOS Alive, em 2018, Trent Reznor e cia voltavam ao NOS Alive mas não eram os mesmos NIN de há sete anos. Na última data da perna europeia da sua digressão Peel It Off, há algo de belo no niilismo destas canções. Há algo de catárctico no mergulho pelos lados mais negros da alma, pelo desespero de quem quer, apenas, sentir-se bem na sua pele. Em Algés, de forma rara, Reznor parece sentir-se bem (há um anseio por usar a palavra “feliz” mas isso poderá ser ir longe demais). Não foram precisos grandes jogos de luz, nem explosões, nem confettis para que, lá está, tudo parecesse estar onde devia estar. Tudo isto continua a fazer sentido, mesmo que tenham passado mais de 30 anos desde que uma boa parte destas canções foram apresentadas. Como um estranhamente comunicativo Trent Reznor recordou, muito do que ele escreve vem de lugares maus, de momentos de fúria, de frustração, de ausência de esperança. Quando volta a estes momentos, no entanto, agora, em 2025, não é nada disso que sente – pelo contrário, sente que está exactamente onde devia estar. E nós estamos com ele, exactamente onde devemos estar.

Tudo em NIN é visceral, das palavras cuspidas a dor às atmosferas industriais, da destruição à libertação. Tudo é alimento, um afago, um amor maior. Se não por si naquele instante, que seja pelo disparo de hinos que nos fazem acreditar que não estamos sozinhos. Nunca vamos estar sozinhos enquanto tivermos a música a acompanhar-nos: por isso, quando, na despedida, como sempre, “Hurt” nos é atirado, respondemos com um sussurro. Com aquele murmúrio que é nosso mas que, ali, partilhamos com todos os que nos envolvem, em corpo e em alma. E acreditamos. Com a cabeça, com o tronco e com a alma.
Os franceses sabem fazer dançar como poucos e os Justice foram os personagens principais de um espectáculo feito para transformar o Passeio Marítimo de Algés numa imensa pista de dança, que não acalmaria de seguida – ou não tivessem sido sucedidos, no segundo dia de NOS Alive, por Anyma. Porém, era no Palco Heineken que as guitarras falavam mais forte nesse serão, quer pela abordagem carinhosa de Finneas (pela primeira vez em Portugal) quer pela desbunda sensual de St. Vincent. Ao longo dos três dias, o NOS Alive 2025 contou com 13 horas de música, 122 artistas e 112 actuações, espalhadas pelos sete palcos do festival.
Com os Buraka Som Sistema já confirmados, o NOS Alive regressa ao Passeio Marítimo de Algés entre 9 e 11 de Julho de 2026.