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The National @ Coliseu dos Recreios: mais ninguém estava lá

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Começou em 2005 o romance entre os National e o público português. Doze anos e 14 concertos depois, a paixão mantém-se ao primeiro acorde, palavra, olhar e emoção.

 

É com “Nobody Else Will Be There” que arranca Sleep Well Beast, o sétimo álbum dos National e o mote para a digressão que trouxe de volta a Portugal o colectivo de Matt Berninger e dos irmãos Dessner e Devendorf. De certa forma, parecendo incoerente, é a suprema definição da noite vivida no Coliseu dos Recreios, no dia 28 de Outubro. Durante o concerto, não existia mais ninguém – apenas a banda e o público que ofereceu uma devoção próxima da experiência religiosa. E quando “Nobody Else Will Be There” foi entoado, em Lisboa, os sussurros foram enlevados pelos milhares que, há muito, tinham esgotado a lotação de uma das mais belas salas do país.

Desde um (outro) mítico concerto, na Aula Magna, em 2008, que os National não actuavam em território português num espaço que permitisse à sua música a intimidade expressa nas suas canções. Há algo que se perde nos imensos recintos de festivais ou na imensidão da arena de Lisboa que tantas vezes já mudou de nome. Orações como “Karen”, “I Need My Girl” ou “About Today” apelam a um aconchego que se perde nas grandes multidões. Mas, no Coliseu de Lisboa, tanto os momentos de maior introspecção quanto as explosões de frenesim foram elevadas a instantes de profunda beleza – e de enorme celebração.

Se é certo que é com Sleep Well Beast que os National se fizeram à estrada, ao longo do concerto foram oferecendo pérolas de outros registos – de “Santa Clara” a “Green Gloves” – e, até, algumas surpresas, como “Guest Room”, que não era interpretada ao vivo há três anos. Os primeiros arrepios surgiram, no entanto, logo com “The System Only Dreams In Total Darkness”, o primeiro single do álbum #7 e a segunda canção de um alinhamento com perto de duas dezenas e meia de viagens. Seguiram-se muitos outros, abraçados por hinos impressionantes, entoados como se (lá está!), não houvesse mesmo mais ninguém, dos recentes “Turtleneck” e “Day I Die” aos clássicos “Bloodbuzz Ohio” e “Fake Empire”.

Acompanhado pela tradicional garrafa, Matt Berninger permanece aquele frontman que parece desconfortável com o holofote mas que se sente como ninguém no meio dos braços do seu público – e lá foi vê-lo a calcorrear as bancadas do Coliseu, quase até meio da sala. Para êxtase de uma audiência desde sempre extasiada.

Quando chega o momento do encore, e depois da velocidade fulminante da dupla “Terrible Love” e “Mr November”, “Vanderlyle Crybaby Geeks” foi (como é tradição) feita a capella, com Berninger a assumir a postura de maestro, a registar o momento, a impelir ao ritmo que o público acompanhou com imponentes passos. Como se de uma procissão se tratasse.

Dizem os críticos que os National, basicamente, moram em Portugal: são assim as histórias de amor. Um amor correspondido, vivido em pleno, sem culpa nem timidez. No dia 28 de Outubro, o Coliseu dos Recreios foi a sua casa. À saída, a sensação era a de que se tinha passado pela sala de estar – caótica, desarrumada mas com sabor a lar – dos nossos melhores amigos. E mais ninguém estava lá…

 

Alinhamento

Karen
The System Only Dreams in Total Darkness
Walk It Back
Guilty Party
Don’t Swallow the Cap
Afraid of Everyone
Bloodbuzz Ohio
Born to Beg
I Need My Girl
I’ll Still Destroy You
Turtleneck
Guest Room
Secret Meeting
Green Gloves
Apartment Story
Carin at the Liquor Store
Day I Die
Fake Empire
About Today

Encore
Nobody Else Will Be There
Santa Clara
Mr. November
Terrible Love
Vanderlyle Crybaby Geeks

 

Foto: Facebook Oficial The National

 

 

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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