E, ao segundo dia, a primeira lição de História da 27ª edição do festival minhoto – um serão que podia, perfeitamente, ter como subtítulo Ordem & Progresso.
Quando o concerto dos New Order se precipitava para o final, eis que, no ecrã que enchia o fundo do palco montado na Praia Fluvial do Taboão, os olhos eram confrontados com uma verdade inquestionável: Forever Joy Division. Os New Order não são os Joy Division mas, no regresso a Portugal, deixaram vivas as cinzas do seu passado.
Em Junho, comemoraram-se os 40 anos da edição de Unknown Pleasures, o mítico álbum que apresentaria ao universo os Joy Division. Em quatro décadas, como todos (cruelmente) sabem, muito mudou. O mundo perdeu Ian Curtis o que levou ao final da banda e à consequente criação dos New Order. O corpo podia ser semelhante mas os trajes, entre os dois projectos, eram, em tudo diferentes. Pegando nos cortes sinuosos da existência humana, onde os Joy Division mergulhavam num mar soturno, os New Order mostravam que a tristeza também pode ser dançada; se os Joy Division apelavam a espasmos emocionais na vertigem do exorcismo da melancolia, os New Order convidavam à cor como forma de combate. Porém, regresse-se ao princípio: os New Order não são os Joy Division. Mesmo que, no Vodafone Paredes de Coura, (também) o tenham sido.
Foi preciso esperar até 2005 para que Portugal os recebesse – com passagem, nesse ano, pelo Super Bock Super Rock – e quase mais década e meia para o reencontro, quando, na verdade, os últimos anos dos New Order, não têm sido os mais lineares, de pausas à saída de Peter Hook, em 2007. Porém, por mais mudanças que o colectivo passe, há algo que nunca muda: o poder e a força das canções, de “Restless” a “Bizarre Love Triangle”, sem esquecer a frenética corrida para a meta final, em Paredes de Coura, com “True Faith”, “Blue Monday” e “Temptation”. Sairiam para um encore onde, afinal, os New Order foram os Joy Division: depois das visitas a “She’s Lost Control” e “Transmission”, o canto do cisne seria dado com “Atmosphere” e o hino ao amor que todos já perderam com “Love Will Tear Us Apart”. Pode parecer estranho (re)encontrar os Joy Division nos New Order? Pode mas a vida é um lugar estranho – e estas são duas bandas que entoaram a vida como poucos.
Mas houve mais ordem & progresso no segundo dia do 27º Vodafone Paredes de Coura, da mensagem poderosa em registo cândido de Stella Donnelly ao nervo do falseto de Will Toledo, no regresso dos Car Seat Headrest a Portugal (e, também, a Paredes de Coura). A suprema ordem & progresso? A viagem ao Brasil dos Capitão Fausto, que é como quem diz a A Invenção do Dia Claro, o registo que o quinteto registou na selva de betão de São Paulo e que marcou o encerramento do Palco Vodafone nesta segunda noite. Uma banda portuguesa a fechar? Pode não ser, ainda, palavra de ordem mas é um perfeito sinal de progresso.
Foto: Hugo Lima