Selma Uamusse: “Tenho imenso para fazer”.
Selma Uamusse pode ter sonhado reconstruir Moçambique com a arte da engenharia mas, entretanto, descobriu que podia mudar o mundo com o engenho da sua arte.
Talvez uma das palavras que Selma mais vezes repete ao longo da conversa com o M de Música seja “família” – faz sentido. Nascida no seio de uma imensa família moçambicana, era nos encontros instigados pelo avô Álvaro que todos se reuniam, num misto de amor com muita festa, dança e música. É com a família que, ainda criança, se muda para Lisboa, onde acaba por permanecer, na adolescência, para concluir o ensino secundário. Rumo ao Instituto Superior Técnico, a menina que desde criança cantava, achava que se tornaria Engenheira de Território, determinada em regressar a casa, para ajudar na reconstrução do seu país, agora a recuperar do final de uma longa guerra civil. Porém, depois de uma festa de aniversário à qual vai com uma prima, descobre no gospel uma outra família e, também, uma forma de estar na vida. É com o coro que pisa os primeiros palcos com os Wraygunn, então, a promoverem o seu segundo álbum, Ecclesiastes 1.11 – e, assim, adopta uma nova família, marcada pelo rock. O estudo do jazz leva-a a aprofundar outras obras e a deixar-se contagiar e inspirar por nomes fundamentais como Nina Simone ou Miriam Makeba. Porém, é quando cria a sua própria família que compreende qual é a sua verdadeira missão: depois da maternidade, assume que a engenharia podia ser uma vocação mas era na música que a sua alma, realmente, se tornava maior. Por isso, regressou às origens e à sua moçambicanidade para criar o seu primeiro álbum a solo. Mati é um disco de Moçambique mas não é um disco tradicional moçambicano: um pouco como a sua autora. Nada, aliás, em Selma, é tradicional – nem a sua voz nem o seu olhar nem a sua constante curiosidade. Pode ter demorado a chegar a Mati mas, claramente, este é um caminho que está, apenas, a começar.