Mazgani: “As canções ditaram o rumo da minha vida”.
Por mais melancólica que a sua música possa parecer, é fácil o sorriso de Mazgani – e é fácil sorrir com Mazgani.
Sobretudo quando afirma que o seu trajecto não é diferente de todos os outros: com cinco anos, após a Revolução Islâmica, a sua família – devotos ao bahá’I, religião fundada na Pérsia há menos de dois séculos – é obrigada a abandonar o Irão. Na Europa, escolhem Portugal (e Setúbal) para construírem uma nova vida, uma vida na qual Shahryar pensou vir a tornar-se advogado. No ciclo preparatório, carregava uma cassete com Born in the USA, de Bruce Springsteen, no seu “walkman”, mas foi um nascido no Canadá quem lhe mudaria a biografia. Com Leonard Cohen, Mazgani descobre um novo mundo, onde a palavra se tornava uma imensa oração. À semelhança de Cohen, só edita o primeiro álbum na terceira década de vida – e estavam, assim, expressas as coordenadas para esta história. Para si, o acto da criação é um doloroso momento de reclusão, que nunca fica mais fácil. Escreve para cantar e é categórico quando fala da sua síndrome de impostor. O “impostor” que já é louvado pela Les Inrockuptibles com uma primeira maqueta; o “impostor” que escreve uma canção, incluída no primeiro álbum, que fica em 3º lugar numa competição mundial com Tom Waits e Robert Smith no júri; o “impostor” que trabalha com os produtores de Nick Cave e de PJ Harvey; o “impostor” que foi objecto de um documentário e torna numa espécie de longa-metragem cada um dos seus álbuns.
Sim, é fácil sorrir com Mazgani – o impostor que pensa que tem enganado toda a gente quando, na verdade, é ele quem tem estado enganado.
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