Zé Pedro: “O rock é uma maneira de estar na vida”
É impossível falar de rock em Portugal sem falar de Zé Pedro.
É uma das caras mais visíveis dos Xutos & Pontapés mas é muito mais do que o guitarrista daqueles que são considerados uma verdadeira instituição nacional. Chamam-lhe tipo porreiro e ele convidou-nos para entrar na sua casa, na estreia do M de Música.
Primeiro, quis ser bombeiro. Depois, por influência do percurso militar do seu pai, achou que ia ser aviador: até que foi mordido pelo bicho da música. Numa viagem pela Europa, foi confrontado com a explosão do punk e nunca mais foi o mesmo. “Queria ser alguma coisa dentro da música, não forçosamente músico mas algo que tivesse a ver com música”, confessa.
Carregou equipamento de colectivos de amigos mas levou a sede mais longe – com Zé Leonel decidiu criar uma banda punk. Colocaram um anúncio e respondeu-lhes Kalu, que se sentou na bateria. Tim chegaria pouco depois, por sugestões de outros amigos. E, a 13 de Janeiro de 1979, os Xutos & Pontapés subiam ao palco, de forma meteórica, dos Alunos de Apolo. Sem que percebessem ou conseguissem explicar, passaram 37 anos. “O Keith Richards diz que não há nenhuma fórmula para manter uma banda unida: se houvesse, ele estava milionário porque a vendia”. A verdade é que são raros estes casos de longevidade. “Acho que passa pela tolerância, pela amizade, gosto por estar a trabalhar juntos, vontade de fazer coisas, os desafios que nos propomos”, tenta explicar. “Somos cinco pessoas completamente diferentes uns dos outros mas, de certa forma, dentro dos Xutos, completamo-nos. Isso é muito saudável: temos a banda mas podemos fazer coisas por fora, trabalhar com outras pessoas, mantendo os Xutos como o grande pilar da nossa vida profissional”.
Eterno curioso – nos Xutos como na sua vida –, o rock tornou-se a principal bússola de Zé Pedro. “De facto, tomou conta de mim: gosto, entendo-o bem, pesquiso sempre muito sobre bandas, sobre o que se passa no mundo, defendo o rock’n’roll até às últimas consequências, estou sempre atento”. Para Zé Pedro, no entanto, o rock é muito mais do que um mero género musical. “O rock não se ensina, é uma maneira de estar na vida, é uma coisa que se sente, que está na alma e à qual não se consegue fugir. Tem a ver com o desafio de não se ter medo de mudar as coisas. O rock tem a mudança no seu ADN e isso pode ser encontrado em vários tipos de artes, em vários tipos de criatividade”.
Olhando à volta, Zé Pedro tanto exibe com um sorriso um livro de David Bowie quanto mostra uma biografia da história do punk nos Estados Unidos. Vislumbram-se os últimos discos que comprou e surge o sorriso entusiasmado com Post Pop Depression, o álbum que une Iggy Pop a Josh Homme. “Acho que o rock é isso mesmo: estar sempre à procura de coisas novas, de alternativas, de soluções, de novos sons, novas fórmulas de conjugar esses sons. É muito gratificante quando encontramos alguma coisa que nos surpreenda – eu fico muito contente quando isso me acontece”, confessa.
Ídolo de muitos, Zé Pedro nunca deixou de ser, ele próprio, fã. Uma das suas referências? Jimmy Page, o mítico guitarrista dos Led Zeppelin, que teve oportunidade de conhecer e entrevistar, em 2015, ao lado de Lia Pereira, da BLIZT e Expresso. “É a gratificação de se estar no rock – quando somos reconhecidos pelos nossos ídolos. O rock’n’roll é uma corrente: tanto tenho fãs quanto tenho ídolos. Eu faço parte de uma cadeia que transmite alguma emoção e algumas mensagens. Ser reconhecido, por ídolos que tenho, com uma boa conversa – como foi no caso do Jimmy Page –, para mim, foi muito gratificante: Estive 25 minutos com ele e, no fim, ele disse que tinha sido uma óptima conversa”.
Músico mas também divulgador, já o encontrámos na televisão e na rádio, a partilhar os seus gostos e descobertas. Há 37 anos com os Xutos & Pontapés, Zé Pedro não parece disposto a abrandar a viagem. Em 2015, abraçou outro projecto, com a edição do álbum de estreia dos Ladrões do Tempo. Com tantos quilómetros percorridos, tantas canções encenadas, o que é que, afinal, ainda te falta fazer, Zé? “Falta-me conhecer a próxima grande banda”. Venha ela.