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Matias Damásio: “Vivíamos 14 num T2”

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O título do seu primeiro álbum, à distância, parece uma premonição: a vida de Matias Damásio tem sido uma imensa Vitória. Da música, da vontade mas, acima de tudo, do amor.

 

As cenas iniciais do filme da vida de Matias Damásio são rodadas nas ruas do Bairro da Lixeira, em Benguela. O nome não foi dado à toa: zona pobre e humilde, as terras eram roubadas ao lixo para que os habitantes pudessem erguer as suas casas, feitas de placas de metal, com pouco dinheiro mas a transbordar de amor. Era assim o lar da avó Augusta, onde as portas estavam sempre abertas – ou não fosse ela grande profeta do amor, o sentimento supremo que fazia sobreviver e ultrapassar todas as barreiras. O pequeno Matias era atraído para as casas de alambique, onde a clientela era chamada com grandes colunas, de onde saíam obras tão díspares quanto Eduardo Paim ou Michael Jackson. À mesa, a comida podia escassear mas a música, essa, era de graça.

Como muitas crianças, em plena guerra civil, Matias faz o trajecto Kwanza-Sul-Luanda com 11 anos e, ao chegar à capital, trabalha nas ruas, do Mercado Roque Santeiro a engraxar sapatos às praias a escamar peixe. Só quatro anos depois é que a família se reúne, no Morro Bento, onde a Tia Cambiça cede uma parte de terra para que uma nova casa fizesse com dezena e meia de familiares não fosse obrigada a conviver num espaço com apenas dois quartos. É para essa casa que Matias arranja dinheiro depois de vender o carro novo que vence na Gala À Sexta-feira, da TPA. Foi a primeira grande mudança que a música de Matias permitiu à sua família: começou a editar em 2005, com Vitória mas as vitórias foram continuando. Menos de década e meia mais tarde, já editara outros quatro álbuns, já correra o mundo com as suas canções e já mostrara o verdadeiro poder do amor. Passeia-se pela kizomba mas também pelo semba, imune aos géneros mas devoto à palavra. À palavra do amor, o tal que lhe foi ensinado pela avó Augusta. Os ritmos passam mas as palavras, essas, ficam.

Ana Ventura Ana Teresa Ventura trabalhou na Blitz durante dez anos e hoje podemos vê-la tanto em festivais de verão cobertos pela SIC, como na sua rubrica, M de Música do programa Mais Mulher, na SIC Mulher.

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