Celebração da música portuguesa e da música em português chega à terceira edição com lotação esgotada.
Não se pode dizer que O Sol da Caparica seja o festival da música portuguesa – porque pelo cartaz encontram-se os sabores de África de Aline Frazão ou C4 Pedro ou a viagem até ao Brasil de O Rappa; também não se pode dizer que seja o festival da música “em português” – porque pelo cartaz encontram-se hinos em inglês entoados por alguns dos mais importantes projectos nacionais, como David Fonseca, Aurea ou The Gift. Uma coisa, porém, é certa: O Sol da Caparica é uma grande celebração, de uma lusofonia que se espraia por muito mais do que um idioma ou uma nacionalidade. À terceira edição, o festival alargou as suas fronteiras e o público retribuiu com uma afluência que fez esgotar a lotação de um recinto plantado à beira-mar.
Foram noites de calor – e não se fala apenas das temperaturas altas sentidas em pleno mês de Agosto. Os termómetros subiram com os muitos ritmos e géneros que foram passando pelos quatro dias d’O Sol da Caparica: da melancolia furiosa dos Mão Morta à lição de História dos Orelha Negra; da pop solarenga de David Fonseca à festa de 20 anos de carreira dos Gift; do fado que se pode dançar de Ana Moura à veia bluesy de Rui Veloso. O Sol da Caparica também mostra que não está preso em 2016 – o que lhe permite alinhar, lado a lado, o futuro da pop nacional, com Diogo Piçarra, com o incontornável passado sempre actual de Jorge Palma e Sérgio Godinho. Se o rock marcou presença – do psicadelismo dos Keep Razors Sharp à veia dançante dos X-Wife –, alguns dos momentos mais fortes foram induzidos pelo hip hop, de Jimmy P ou Mundo Segundo com Sam The Kid.
Sim, é verdade, O Sol da Caparica tem o poder da diferença. Aquele que permite vislumbrar, lado a lado, famílias acompanhadas de carrinhos de bebé com adolescentes a descobrirem, pela primeira vez, a magia de um festival de Verão. Começou há três anos, como uma aposta da Câmara de Almada, sem apoios de grandes marcas. Não pretende competir com os restantes eventos estivais do género e, ao fazê-lo, encontrou o seu próprio espaço. As 27 mil pessoas – números avançados pela organização – que encheram as noites d’O Sol da Caparica em 2016 provam que, à terceira edição, o festival já não é uma aposta mas sim uma certeza. Ser diferente, afinal, continua a valer a pena.